terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fabricando Felipe – parte 1: Anamnese




- Fuma?

- Sim, mas pouco. Durante a semana, uns 4 ou 5 cigarros ao dia, eventualmente quando bebo aí eu dou umas fumadas boas.

- Ah, então você bebe? Com que frequência? 
- Socialmente.

- Defina socialmente.

- Porra, socialmente, como dizem por aí. Fim de semana, e tal... socialmente, sei lá.

- Sedentário? 
- Nem tanto, ando de bicicleta, busco meu filho na escola caminhando... dá uns 45 minutos ao todo. É sou sedentário.

- Pratica algum esporte?

- Já disse, ciclismo, levantamento de copo e arremesso de bituca de cigarro. Ah, sou buscador de filho na escola também, isso conta?

- Não.

- Tá.

- Peso e altura...

- 1,88 m e 96 Kg, ou seja, IMC de 27 = sobrepeso.

- Tem uma vida tranquila ou estressada?

- Vejamos... Tenho alunos que orientar, dinheiro que conseguir para a pesquisa, direção de uma ONG, contas que pagar, um cachorro que estressa minha mulher, sou síndico do meu prédio e sou cliente da OI. É, considero minha vida um pouco estressante.

- Consome drogas ilícitas?

- .......

- Glicemia em jejum = 90mg/dl; Colesterol total 244mg/dl... É o açúcar está ok, mas esse colesterol...

- É eu exagero nos tira-gostos de bar, mea culpa.

- O que mais? Conte tudo, não esconda nada.

- Tá bom, eu confesso. Eu também sinto desejos consumistas, às vezes quero comprar algo tão inútil quanto uma caixa de ferramentas, aliás, comprei uma caixa de ferramenta no último sábado numa grande loja atacadista. Pior, a caixa é provavelmente feita na China com mão de obra semi-escrava e viajou de cargueiro até aqui, contaminando o ambiente e fudendo quem sabe quanta coisa mais. Ah, também tenho ar-condicionado e penso, penso somente, em comprar um carro.

- Mas isso é bom, não vê televisão? O consumo é a redenção do homem!

- Ah, é? Ufa.

- Pois é, começaremos por aí.

- Maldita consciência!

Continua...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Caminante


Traigo mi mochila como un fardo incomodo
Es porque aún no distingo lo necesario del estorvo
El cuerpo sufre si la mente no está en el mando
Y busca redención en el placer efímero

La madurez no llega, pero imprime su huella
En el sendero que busco al azar del sueño.
Algo me incomoda. Son los recuerdos
Bellos, malos, importantes... todos inútiles

Ligereza para buscar, equivocarme y volver
Sin recuerdos, sin equipaje más que el deseo y un perro
Caminar es el fin y se va más lejos con poco
Un poco de todo para no faltar nada de nada

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Migração



Ontem, voltei a ter contato com tema da migração humana, desta vez dramatizado por uma cubana na peça “No vayas a llorar”. Lembrei que tinha esquecido este fenômeno que ano a ano empurra milhões de pessoas para terras alheias. Talvez porque no Brasil esse tema não seja parte de nosso cotidiano, e a única imagem de imigrante que conseguimos estereotipar foi a do nordestino que vai pro sul e cuja saga se conta em prosa e verso e canções e romances. Lembrei que morei no México, um país, cuja economia depende em boa parte das remessas de dinheiro dos que foram “pa’l norte” para “el otro lado”. Pensei que toda pessoa que conheci no México e a quem tive curiosidade de perguntar se possuíam algum parente nos EEUU, me respondeu positivamente. Pois bem, esse é o holotipo de imigrante, aquele que sai de seu lugar em busca de uma vida melhor. Mas porque o homem migra? Desde quando se migra? Respondo, desde que nossos ancestrais ainda nem falavam, nem conheciam o fogo. Mesmo depois que ficamos sabidos e começamos a matar os nossos irmãos, continuamos migrando, colonizamos o mundo em seus quatro cantos. Ainda assim migramos e nem sempre por sobrevivência, mas por aventura, por amor, por sabedoria por angústia, por perseguição, que mais? Tudo o mais. Qualquer motivo é legítimo para se emigrar, mas os estados nacionais não aceitam qualquer motivo, qualquer estória de amor, qualquer desejo, e persegue os imigrantes. Uma reflexão mais profunda sobre esse fenômeno de massa e generalizado no mundo me diz que é algo sério, que vai mexer com as soberanias como um todo, política, cultural, econômica, etc. O homem vai continuar a se lançar ao mar e ao ar, a saltar muros e grades, a caminhar longas distâncias, porque parece que nossa natureza é migrar. 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O tribunal das chuvas e o suicídio coletivo de baleias



Por causa da chuva morreram mais de 270 pessoas no estado do Rio Janeiro ontem. São Paulo está debaixo d’água há dias e como num dejavú o filme do caos se projeta diante da nação brasileira, novamente. Numa reação bastante humana, procuram-se culpados por tal tragédia e logo encontram. São as chuvas, claro, que impressionantemente caíram na quantidade esperada para um mês em apenas 24 horas, isso encharcou a terra, cedeu o terreno e no meio de caminho que a lama tomou havia casas. Tudo isso bem documentado, demonstrado e provado através de moças bonitas que explicam o “fenômeno” meteorológico munidas de animações computadorizadas na televisão. Calamidade, tragédia, ninguém pode com a natureza que oficialmente agora é ré nesse processo, acusada de ter chovido demais em lugares pouco apropriados. Mas esse crime teve co-autores e só pôde acontecer com a omissão consentida dos governos (em todos os níveis). Não é preciso ter estudado muita geologia para saber que os lugares de risco são aqueles nas encostas íngremes, quase sempre sem vegetação, mas também com esta. Em sua defesa, pois este réu pode se defender, se decreta estado de calamidade pública e se instala gabinete especial de tragédia (qualquer semelhança com Pernambuco não é mera coincidência). Sua principal defesa é culpar a prática histórica de omissão dos governos anteriores e sugerir outro culpado, o povo, que ocupa irregularmente os locais de risco. Então temos outro réu, que é ao mesmo tempo a vítima. Mas nunca houve política habitacional no Brasil e planejamento urbano é palavrão de acadêmicos. Antigamente a prática comum era culpar a natureza, mas agora essa tem álibis, são eles: o aquecimento global, o assoreamento dos rios, o desmatamento e ocupação das áreas de preservação permanente como encostas e beiras de rio. Portanto, nesse processo ninguém pode ser culpado e talvez por isso a cada ano a tragédia se repita e cada vez mais se pareça com um suicídio coletivo, como aqueles praticados por espécies de baleias que encalham voluntariamente nas praias até morrerem. Em tempo, vale lembrar que o Recife há anos sofria muito com deslizamentos e a cada inverno nosso as mortes eram certas. Aqui, foi feito parte da tarefa de casa e foram mapeadas as áreas de risco e medidas preventivas reduziram a quase zero as mortes por deslizamentos em nossa capital.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mau-humor



Acordar de mal-humor é uma maravilha.
Ninguém te olha nem te cumprimenta
Nem os passarinhos te cantam
Só escutas um chiado lá dentro
Som de pavio queimando
Buuuuummmmm!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O que fazer?

Mente gira mundo
Desordem é regra
Caos não-criativo, obsessão.
A atmosfera é pesada
Golpeia com dores, sonos e insones
Um pássaro insiste num chamado
E várias vezes é mandado calar.
Nada se escuta, nada se vê
Tudo se evita, o toque, a vida.
Nada ainda é...