sexta-feira, 29 de junho de 2007

UNAM da humanidade






Eu nunca dei muita importância para esse negócio de patrimônio da humanidade. Sempre me pareceu como ser imortal da academia de letras no Brasil, até Bob Fields e Roberto Marinho já foram. Existe um monte de lugares que são patrimonio da humanidade, cidades velhas como Olinda, que na verdade tem um grande significado para nós pernambucanos, seja pelos carnavais inesquecíveis que passamos lá, pelas tardes de domingo pra filosofar e comer tapioca. Mas aos olhos de um turista nem é lá essas coisas, a humanidade estaria pouco se importando com Olinda. Digo isso porque aqui no México visitei alguns lugares "patrimônio" e aos olhos de um visitante mais chato feito eu, Igrejas e palácios nunca deixaram de ser um símbolo da opressão pela que passaram os mexicanos no passado, sem falar de agora, claro. Achar sim, que isso é um patrimônio da memória sangrenta da América.

Bom, mas nessa infinidade de patrimônios da humanidade, há um declarado recentemente que me toca em especial, a UNAM. A Universidade Nacional Autónoma de México teve seu campus da Cidade Universitária declarado patrimônio cultural da humanidade essa semana. Essa foi a justiça que por exemplo não foi feita à Mario Quintana na ABL. A UNAM sim, merece figurar aí, mas porquê?
Há vários motivos que serviriam de pretexto para isso, mas alguns são especialmente válidos:
1) O campus é uma maravilha arquitetônica moderna, construido nos anos 50 existem edifícios que imitam pirâmides, aproveitamento de águas, uma reserva ecológica, um estádio que foi usado nas olimpíadas de 68...
2) Os edifícios estão decorados com pinturas das mais expressivas do movimento muralista mexicano, pintores como Diego Rivera e Alfaro Siqueiros têm murais na UNAM. E todos, sem excessçao têm como tema o conhecimento como arma para a liberdade.
3) A Biblioteca Central é o melhor de todos. Um edifício de uns 30 metros de altura completamente cuberto de um mosaico que conta a história do México e da América Latina, uma preciosidade sem igual em detalhes, beleza e sentido.
4) O escudo da UNAM não traz inscrições convencidas como virtus impavida e outras baboseiras como leões quem sabe mais o que. O escudo da UNAM é composto por uma águia (mexicana) e um condor (andino) que se protegem o escudo que traz nada mais que um mapa da América Latina, do México pra baixo. Em volta do escudo existe os dizeres, em espanhol,"Por mi raza, hablará el espíritu". Tudo isso está sobre a figura dos vulcões que se avistam de qualquer ponto da cidade quando não há muita poluição. É a unidade latino-americana, esse ideal tão bonito e tão perseguido, materializado no escudo da maior universidade latina.
Isso sim merece ser patrimônio da humanidade, todo esse conjunto de valores é digno de ser compartilhado pela humanidade.
Mas o melhor disso tudo é poder estudar aqui.
Viva a UNAM.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Nas noites infinitas do Engenho do Meio
Eu olhava pela janela
Acendia um cigarro e via
Luzes na direção do mar.

Um trago...tudo que eu nunca seria.
Outro trago... aquela mulher que queria.
Mais um trago... fffffffffffffffffff
O último... dormia.

domingo, 17 de junho de 2007

Sobre a formação de um biólogo


Durante minha graduação em biologia eu sofri de enamoramento por diversas áreas da biologia. Primeiro, consegui um estágio em um laboratório de bioquímica, com direito a usar bata e manipular pipetas de precisão. Aprendi em alguns mêses a fazer uma "curva de sei lá o quê" depois de diluir uma proteína num líquido qualquer. A professora me elogiou uma vez dizendo que eu tinha feito uma excelente curva. Nesse mesmo dia eu abandonei esse laboratório porque percebi que tinha feito algo bem sem nem saber o que fazia e isso me pareceu uma armadilha perigosa. Depois desse laboratório, estagiei no Espaço Ciência de PE. Esse sim foi excelente, me dava bolsa e eu sabia exatamente o que fazia lá. Dava aulas para crianças e jovens com a missão se despertar-lhes a curiosidade pela ciência, o gosto pelo conhecimento. A biologia começava a ter sentido pra mim. Os seguintes estágios foram uma sucessão de experiências fracassadas com professores sem a mínima noção de ciência. Mas como afirmei antes, eu me enamorei de todos eles, mas como passa a quase todo enamoramento súbito (o que é muito diferente do amor), essa quebra inicial de barreiras é logo sucedida pelo tédio da falta de porquês.

Durante esse período, fui a muitos encontros de estudantes de biologia, nacionais e regionais. Uma das grandes vantagens desses encontros era trocar idéia com todo tipo de gente sobre a biologia e o papel do biólogo no mundo. Dominava a noção de responsabilidade social do biólogo. Uma mescla de pseudo-hippismo pós-moderno com um socialismo elitizado, tudo isso dentro de um paradigma muito forte de sustentabilidade. As "comunidades" eram a chave de tudo, o trabalho com as "comuniades" enobrecia o biólogo e o desprezo (ou diria despeito) à ciência se tornou uma posição politicamente correta entre os que compartilhavam dessa visão de mundo.
Fui partidário dessa idéia por muito tempo até que vi que esse ativismo pesudo-hippie tampoco representava uma alternativa de solução para os problemas ambientais e muito menos para a inserção do biólogo na sociedade. Por outro lado a "ciência" que eu conhecia era quase totalmente descomprometida com o mundo e até mesmo com a própria ciência. E foi dentro desse dilema que me formei como biólogo.

Um dos lados desse dilema me persegue até hoje, já que num doutorado é mais difícil encontrar pseudo-hippies uma vez que por definição esses não são chegado à ciência. Por outro lado, abundam a falta de compromisso e de sentido na ciência. A imersão num tema de estudo pode isolar tanto um cientista que o torna um bicho estranho. O grande biólogo Edward O. Wilson chegou a afirmar em seu livro Naturalist que para ser bom em algo, um biólogo deve ser capaz de se fusionar com seu objeto de estudo. É essa fusão que muitas vezes deforma o papel do biólogo na sociedade, o torna uma criatura sem muito traquejo social, até para questões de convivência. O objeto de estudo se torna um fim em si. Mas, não será todo objeto de estudo um fim em si?

É perigoso pensar que a ciência deve ter uma motivação prática, uma aplicação. Muito do nosso conhecimento hoje em dia, pra não citar os famoso avanços tecnológicos que possibilitaram a sociedade industrial, veio de descobrimentos e teorias sem pretenção prática no momento de sua descoberta ou proposição. Isso mostra que a ciência é importante, que tem valor. Mas ainda que nunca chegue o dia em que o estudo da seleção sexual entre libélulas tenha uma aplicação no mundo, ele pelo menos contribuirá para um maior entendimento da natureza, da evolução da nossa história como parte do planeta.

Não quero me fundir com meu objeto de estudo ao ponto em que me transforme numa árvore, isolada e passiva. Tampouco acredito no "bom selvagem" que supostamente habita dentro de nós e cuja liberação coletiva será a panacéia da humanidade. Penso que a vida me deu chance de fazer o que eu gosto e que o que eu gosto de fazer tem o potencial de contribuir com um mundo melhor. Pensando como um budista, busco o caminho do meio.

sábado, 9 de junho de 2007

Bundas, bicilctas e biocombustíveis


Pedalando nús. Assim os espanhóis fazem seu protesto a favor de mais ciclovias e menos carros. É evidente que tem impacto, afinal bundas, ovos, peitos e xerecas sobre duas rodas pelas ruas de Madrid é no mínimo chamtivo.
No fundo disso tudo, a propagação de uma nova maneira de viver, menos dependente dos carros num mundo cada vez mais preocupado com o que vai mover os carros em alguns anos. É parte desse altermundismo que somente aparece na mídia como um movimento "anti-globalização" cada vez que o G-8 ou o Banco Mundial se reúne. É mais uma das estratégias de desinformação implementadas pelo "establishment" anglo-saxão. Esses protestos, na verdade, estão longe de ser anti-globalização, eles são convocados e propagados por internet. Eles existem porque hoje, devido à globalização, conhecemos mais realidades, ainda que virtuais. A globalização é positiva, é enriquecedora, é diversificante... a globalização pode ser a saída da rua-sem-saída em que a humanidade se meteu. "Um outro mundo é possível" é o lema dos altermundistas, termo que sim descreve bem aos que acreditam que a humanidade tem salvação e que essa passa justamente pela globalização das riquezas, das alternativas exitosas, das visões de mundo.

Por falar em alternativas... Ando muito preocupado agora com essa história de biocombustíveis. A Mata Atlântica sofreu seu pior período de devastação durante o pró-alcool e em breve pode sofrer o golpe de misericórdia quando as terras produtoras de cana-de-açúcar de PE voltem a alimentar os pés de cana e os bolsos dos usineiros para produzir álcool. O tiro pode sair pela culatra se substituímos petróleo por biocombustíveis mas não mudamos nossas políticas de consumo energético. Por isso, um otro mundo é possível, mas esse terá que ter menos carros e mais bicicletas e porque não mais bundas à mostra.

sábado, 2 de junho de 2007

Ainda sobre Venezuela

Esse assunto é irresistível. A novidade agora é que o senado brasileiro pressionado pela mídia aprovou uma moção de repúdio contra o fim da concessão da RCTV. Ora, porque o senado brasileiro, tão defensor da democracia, nunca se manifestou quando a Venezuela sofreu o golpe de 2002? Porque o senado não dá a mínima bola para as eleições fraudulentas no México e nos EEUU? Ah não, isso não. Se a questão e de se intrometer em assuntos internos de outro país soberano, porque então o senado foi aprovar essa moção contra nossos vizinhos? Quem se intrometeu em quem?
Se a função da câmara alta é defender a democracia, mais, a liberdade de expressão, então porque diabos o Brasil praticamente não tem TV pública? Porque isso nunca fez parte de uma projeto de nação para nossos governantes?
O problema dessa "crise" é um só: a velha luta de classes. Para os poderosos, as coisas têm dois pesos e duas medidas. As elites não estão dispostas a ceder nem um milímetro em seus privilégios. O fim de uma concessão a uma entre muitas cadeias de TV privada na Venezuela é motivo para falar em censura. Porque antes disso ninguém tinha conhecimento de censura na Venezuela? Mesmo com a mídia privada mundial em plena campanha anti-chavista.
O senado brasileiro devía se preocupar com coisas mais nobres, não preciso dizer quais, do que prestar-se a esse papel ridículo de se deixar pressionar pela mídia privada brasileira que vê no exemplo da RCTV um precedente para o continente.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Pra pensar sobre a midia



Vale a pena ver esse video par entender algo sobre esse negócio de não renovar concessão da RCTV em Venezuela. Não há limites para a midia privada. Mas deve ter limite a mídia? Vale a pena pesar.