quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Tempo em final de tempo

Insistindo na minha veia filosófica ou antropóloga fico pensando sobre porque somos tão afeitos aos ciclos, alguns deles não tão evidentes quanto a noite e o dia. O ano, por exemplo, é algo que sempre me pareceu difícil de entender. Anos com 365 dias, às vezes 366 divididos em 12 meses, alguns com 30 dias outros com 31, e ainda um mês esquizofrênico de 28 ou 29 dias. Desde criança me parecia algo pouco intuitivo, ainda que como criança, só me preocupava a mudança entre aulas e férias, que também não seguia um ritmo perfeito e balanceado (sempre mais aulas que férias me parecia injusto). Pois bem, hoje aos 33 anos fico cada vez mais averso aos ciclos que não entendo. Talvez meu aniversário ainda me pareça algo importante, pois apesar de ser contado através desses anos e meses malucos, sinto que fiz 29, 30, 31, 32, 33... É um ciclo mais palpável. Agora, essas tal festas de fim de ano são um verdadeiro pé-no-saco. Não vou gastar muitas palavras aqui comentando o consumismo e a cordialidade de "boas festas" porque isso já tá cheio por aí afora.

Quando criança, gostava de Natal porque via meus primos, gostava de ano-novo porque ia à praia, geralmente acampando com minha mãe e irmã. Quando adolescente, era a justificativa para o porre de quem só podia beber com o consentimento dos pais nessas datas. Dia 25 de dezembro, por exemplo, ficava achando estranho que fazia um calor infernal em Recife e na TV e cinema era neve pra todo lado. Isso me frustrava, confesso. A mesma coisa acontecia no dia 1 de janeiro, quando tudo pareceria começar de novo, era na verdade uma continuação de ontem. Aos 33 anos, cada dia parece mais a continuação de outro, um moto contínuo.

E porque danado pensamos tanto em ciclos? Deve ser uma função adaptativa selecionada por milênios de evolução da mente. As culturas que contavam tempo, em seus diverso níveis, compreendiam melhor a natureza e tinham mais sucesso (se reproduziam mais). Trazemos isso até hoje. Se eu morasse numa tribo Amazônica talvez pensasse que o ano acabava depois da cheia dos rios. Faria todo o sentido. Se fosse cristão, talvez achasse algum sentido num calendário baseado na minha religião e desejasse feliz natal. Se fosse judeu, estaria reclamando de tanto feriado porque pra mim já se iriam alguns 5 mil anos e nem seria dezembro. Quais os ciclos da minha vida então? Carnaval marca um deles, sério, e aniversário ainda tem algum sentido. O resto é moto contínuo... dia após noite, ou seria o contrário? Mudanças não se dão assim, de um dia para outro, ainda que desejássemos. E desejamos, ora. Como se no dia 1, pimba, deixei meus vícios, minhas virtudes se engrandeceram, meus defeitos estão no passado dia 31. No fundo todos sabemos que não é assim, mas ainda repetimos esse ritual inútil a cada ano, como para não esquecer da esperança de mudança súbita. É o simulacro da redenção, do dia da salvação... O desejo profundo que tudo se transforme de pronto.
Esse texto é um horroroso ensaio matinal de filosofia barata.

Tudo leva tempo... precisa tempo...

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