As reminiscências do passado quase sempre tornam o presente cheio de ruídos que de tão constantes e chatos a gente termina esquecendo deles (assim com barulho de trânsito). É como aquela "mosquinha" da vista... está sempre lá mas esquecemos dela. Pois bem, sinto que cada projeto de vida que fiz no passado deixou uma interferência no meu presente que vez por outra me dou conta. Mas como quase todos os projetos, eles tem começo, meio e fim. Na academia sabemos, tanto os que escrevem quanto os que avaliam, que projetos são projeções que na melhor das hipóteses se realiza em parte. Assim são os projetos de vida que pensamos e que com sorte realizamos em parte e conseguimos ser uma sombra daquilo que projetávamos. O que sobra do não realizado se torna uma saudade do que não foi ou uma frustração danada, que permanece, e disso não podemos fugir. Vira ruído, mosquinha, interferência (como aquelas de televisão).
Ajudar a gente a lidar com essas coisas é geralmente o ganha-pão dos terapeutas, pois eles são especialistas em nos mostrar que esses ruídos existem quando a gente já tinha se esquecido deles ou acostumado com eles. Sem traumas e frustrações com pai, mãe, infância... terapia seria tão inútil quanto os atacantes do Santa Cruz. Sem os resquícios de projetos inconclusos de vida a zumbir em nossa mente, pra quê procurar uma terapia e ficar falando do passado.
Devíamos aprender a fazer projetos como nos ensinam, ou aprendemos a pulso na pós-ggraduação. Projetos têm que ser factíveis, com começo, meio e fim, mas sobretudo devem servir de base para pavimentar grandes idéias que amadurecem depois de anos. Ah, se fosse assim tão fácil para a vida! Outra característica fundamental para projetos de vida deveria ser que eles devem ser curtos pois como diria algum amigo meu: "não há Prozac que dure mais de dois anos". Isso permite que novos projetos sejam desenhados à partir dos acertos e erros dos anteriores. Mas claro, a vida não é uma equação exata assim, um modelo de gestão para a vida não serve de porra nenhuma. Mas uma coisa é certa, os ruídos, zumbidos e interferências podem ser minimizados se aceitamos que a validade dos projetos de vida também é finita.
Porque carambolas devo seguir com escolhas que fiz há anos e que já nem sei se quero seguir com elas? Porque não me permito abandonar projetos fracassados de vida, tão comuns quando contabilizamos nosso tempo pretérito? Admitir uma derrota própria, íntima pode se tornar mais ruído, mas também pode finalmente e de uma vez por todas acabar com reminiscências anacrônicas que já não servem para nada. Já não fui aquele que pensei que seria quando tinha 8, 14, 18, 25, talvez até 30 anos (tenho 32). Mas deveria?
Projeto de longa duração, inacabado eternamente, isso sim.
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