domingo, 7 de maio de 2006

...É deliciosa a inocência do instinto
Mas o tempo e os modos nos distanciam do silvestre
Vejam a cara de felicidade de uma criança
Depois de fazer um cocô bem grande...

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Os urubús se manifestam no Brasil


É repugnante a cobertura da grande mídia sobre a estatização dos recursos naturais na Bolívia. Evo Morales fez uma coisa que o Brasil e os outros países da América Latina já tinham feito há muito tempo. Passou o controle da exploração do sub-solo boliviano para as mãos do estado boliviano. Pra quem não sabe a Petrobras tem o monopólio da exração do petróleo brasileiro e os estado brasileiro tem o monopólio da exploração do sub-solo. Por medida de concessões, o Brasil concede o direito a qualquer empresa de explorar o sub-solo da nossa nação. Ainda assim somos surrupiados, enganados e damos lucros extratosféricos à Vale do Rio Doce e etc. Foi exatamente isso que Evo Morales fez.
"Guerra do gás" é o termo mais usado pela Globo ao referir-se à decisão de Evo. Chamam o governo brasileiro a defender os interesses da nação (entenda-se nação a Petrobras e seu acionistas privados) frente ao governo boliviano. Chamam de equivocada a estratégia de diplomática de Lula, que reconheceu a legitimidade da decisão de Evo. Enfim, as elites brasileiras e o poder econômico estão na verdade extremamente incômodos em ver o povo boliviano tomar conta de seus recursos naturais. Como urubús, a elite brasileira dá mais uma vez uma mostra de sadismo ao questionar o caminho para a libertação da Bolívia. Preferem ter aos vezinhos na merda para que não nos represente nenhuma ameaça. É a lógica capitalista mais cruel, as elites ficam apavoradas quando algém, sobretudo um vizinho "menor" consegue tirar o nariz da merda. É uma vergonha ver a grande mídia brasileira se contorcer de raiva porque a Bolívia agora tem um presidente que pensa nos bolivianos e não nas empresas petroleras.
Como eu posso crer no liberalismo então?

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Da nascente de um rio

Era dia, 11 horas
Depois de muitas horas de anunciação
De muitas semanas de imaginação
Brotaste como uma nascente de água.

Vinheste sem medo, sem ira.
Sereno como se acordasse agora
Como se já soubesses do rio o destino
Do homem que ama a missão.

Nesse dia, fosses meu navegante
Quiz ser também rio, levar-te entre margens
Inundar as margens, mostra-te quão calma e poderosa
É a força das águas contidas no curso.

Calma! haverá tempo, haverá, serás rio
Serás curso, aprenderás a deixar as margens de lado
E fertilizar as esperanças do único objetivo de um rio
Saltar-se por sobre as margens, desembocar na vida.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Hoje chegam Marina e Chico.
Passei o dia limpando a casa, num frenesi maníaco compusivo de arrumação. Desde ontem que não penso em outra coisa. Novamente ter a minha companheira comigo aqui em casa, ter meu filho botando cheiro de nenên na casa. Ah, que delícia! Estive alguns dias no campo, alguns dias sozinho. Sim só, porque ainda que eu tenha minhas companhias por lá, que nunca me deixam sentir-me isolado, eu estava só. E quando estou só me passa algo muito curioso. Começo a descobrir coisas extranhas em mim, que meu ritmo é diferente e meio desordenado quando não tenho a Marina por perto. Mas não é toda vez que isso acontece, já morei só, gosto de ficar só em casa às vezes, e nem sempre tenho essa sensação de que minha vida está...oca. Sim, estou acostumado a ausentar-me de minha casa, de separar-me de Marina a trabalho. E quase sempre é bom, saudável, nos dá saudade um do outro, nos livramos das idiosicrasias um do outro e nos reencontramos e reenamoramos quando nos juntamos de novo. Mas dessa vez eu sinto que busco algo, que arrumo a casa e não está bem, que abro as portas dos armários várias vezes sem aparente motivo, que não consigo me concentrar em coisas muito complexas. Já sei, é saudades das grandes mesmo, da minha mulher e do meu filho.
Vou me embora pro aeroporto buscá-los.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Trela de caçador


Mais um dia de campo ao lado de Raymundo. Figura! Já falei de Raymundo num texto anterior, das suas qualidades de caçador, de sua personalidade de caçador. Pois hoje esse sujeito aprontou uma trela das mais engraçadas. Estávamos num fragmento pequenino, uns 3 ha de área numa época seca de árvores sem folhas, muita escassez de água e comida para a fauna. Separamos-nos a pedido meu para agilizar o trabalho, mas nem precisaria mesmo, Raymundo sempre me deixa pra trás o pra frente no mato, nunca anda ao meu lado, nunca conversa muito a não ser que me veja meio cabisbaixo por uma saudade qualquer.
A floresta estava realmente seca, mudada de cara, de roupa, parecia outra floresta, o sol tropical inclemente das 11:00 am nos castigava cruzando os galhos nus das árvores, pouquíssimos frutos haviam. De repente chega Raymundo ao meu lado depois de ouvir uns gritos meus, lhe chamava para que me ajudasse a encontrar parte dos meus experimentos que se haviam ocultado misteriosamente sob meus olhos enganados pela selva sem roupa.
- Raymundo, deixa-me pegar umas coisas aí na bolsa que levas contigo.-
Ele abre a bolsa e vejo uma coisa como uma galinha depenada dentro
- Que é isso aí dentro Raymundo?-
Era uma Chachalaca, ou Jacu em bom tupy. Uma espécie de galinha selvagem, na verdade um pouco menor mas suficiente para alimentar duas pessoas.
Ele me olhou com uma cara de menino treloso e começou a rir.
-Pensei que não ias reconhecer a Chachalaca depenada-
-Como não Raymundo? Mas como mataste esse bicho?-
O danado não levava seu rifle quando andava comigo. Isso porque eu lhe pedi que não caçasse pelo menos nos lugares onde eu tenho meus experimentos. Então ele me mostra a arma do crime... um bodoque! Um bodoque desses que eu usava lá no Engenho do Meio pra matar pardais e lagartixas. O danado matou esse bicho de uma única pedrada na cabeça e o depenou em menos de 15 minutos (tempo que estivemos separados).
- Eu nem queria Felipe, mas ele se atravessou no meu caminho e como eu trazia o bodoque dei-lhe um tiro. Ele estava pedindo pra morrer.-
Comemos a Chachalaca assada na brasa na sua casa, acompanhada, claro, de umas cervejas bem geladas.

sexta-feira, 7 de abril de 2006

À Francisco

Francisco, Chico
Filho da poesia da carne, da metáfora da carne
Afinal o amor é poesia, fazer amor é poesia
Amar desmedidamente é verso há muito conhecido.

Mas é mais que verso a carne
A carne é vida que veio da poesia
É a melhor metáfora do verso
É materialização da poesia

Já veio pronto, carne e espírito
Afirmando a unidade do que nunca se dividiu
Carne e espírito, poesia e verso
-Vida plena meu filho-

sábado, 14 de janeiro de 2006

La poesía me da dosis extras de vida
Me acerca a lo más crudo y debil de la carne
Los sueños muertos y los por nacer se hacen carne en la soledad de la poesía.
Los siento a todos muy adentro, tan adentro que no los puedo ser
No puedo ser lo que quisiera, no soy lo que pensaba.
Soy solo lo que brota, lo que fluye por mis venas
Tan complejo y la vez tan evidente que me asusta de muerte
Entonces escribo, hiriéndome de muerte en un suicidio
Y revuelvo todo para fuera, la sangre para fuera, las lágrimas para fuera
Lo que brota y lo que fluye se me aparece y pierde el sentido y el misterio
Pierde la poesía, pierde la carne, pierde el movimiento.
Así me convenzo de mí
De mi carne, de mi naturaleza cruda, incógnita y debil
Necesito esa lucidez carnal, el instinto del auto-preservación
Pero más aún necesito el atentado poético de herirme y luego salvarme.