sábado, 15 de outubro de 2005

Peseros e Tacos



Há muitas coisas numa cidade que a traduzem. São essas particularidades as vezes nem tão particulares que cobran sentido para os habiantes de uma determinada urbe. Dentre muitas coisas que podem ser representativas da Cidade do México, duas me chamam muito a atenção. A primeira são os "peseros" os micro-ônibus daqui, que junto com as kombis e as carcaças velhas de ônibus da rede pública, são o principal meio de transporte dessa metrópole (depois vem o metrô). Num sistema de concessão pública, a micro-iniciativa privada pode entrar no negócio do transporte público, basta que tenhas o teu "pesero" e compres tua licença e ponha-lo a rodar por aí. Esse sistema tem vantagens e desvantagens. Dentre as desvantagens estão a falta de fiscalização e a corrupção que permeia a relação do Estado mexicano com as associações de "peseristas", que se assemelham muitíssimo a máfia das kombis que havia em Recife. O comportamento desses "peseros" na rua é de assutar. Param em fila dupla, tripla, quádrupla, fecham cruzamentos, correm muito, nunca fecham as portas, são extremamente mal conservados e desconfortáveis e as linhas deixam de circular quando os motoristas decidem que já não querem andar deixando muita gente na rua às 10:30 da noite. As vantagens são: a rapidez e a quantidade de "peseros" na rua. Nunca se pasa muito tempo esperando um ônibus aqui. A viagem é geralmente divertida, ao som de salsas, tecno ou músicas românticas, muitas vezes de Roberto Carlos cantando em espanhol. A decoração dos "peseros" é fantástica. Uns trazem flores no painel que também aloja uma imagem da Virgem de Guadalupe. As laterais do motorista são muitas vezes adornadas por adesivos de mulher pelada ou broches de marcas famosas. Aí dividem espaço com a carteira de motorista do dono do "pesero" colada no vidro, que nunca é o mesmo que está dirigindo. A breguisse mexicana tem um expoente de expressão nas decorações de desses veículos. Ademais, coisas impressionates para brasileiros têm lugar nesses ônibus, que quando estão superlotados a gente entra por trás e passa suas moedas com a passagem ao motorista, que também é cobrador. "Una hasta el Estadio Azteca por favor", grita um passageiro que entrou por trás enquanto suas moedas passam de mão em mão até o motorista, esse por sua parte, enquanto dirige, faz o cálculo da distância até o destino e devolve o troco que novamente regressa de mão em mão até o passageiro. Tenho certeza de que em Recife se umas moedas têm que passar de mão em mão de desconhecidos para chegar ao seu destino nunca chegariam, que dirá do troco. Todos os dias passo pelo menos uma hora e meia dentro dessas caixas de fósforo ambulantes.
A outra coisa que é uma tradução quase literal da Cidade do México são os famosos "tacos". Em quase cada esquina dessa cidade há uma barraca de tacos. É a legítima e verdadeira comida rápida do México, a "food" mais "fast" que existe na face da terra. Talvez por isso seja uma boa tradução dessa cidade que anda a rítmo de tormenta tropical (pra citar esses fenômenos famosos ultimamente). Os tacos consistem em duas tortilhas de milho (uns 10 cm de diâmetro) esquentadas numa chapa depois de molhadas numa mescla de gordura, ólheo e bactérias onde estão bioando a carne que lhes vai dar o recheio. Custam de 3 a 5 pesos em média, variando de acordo com o tamanho e a qualidade da carne, tripa, "pastor", "suadero" (também conhecido como "suda-perro", sua-cachorro em português), "chorizo". Tudo isso preparado em com as mãos, obviamente fica mais gostoso. São sagrados os tacos das sextas-feiras ou os de depois da "borrachera". A rapidez com que trabalham esses homens é inacreditável. Aqui na esquina de nossa casa tem um posto de tacos. Sempre lotado de gente num frenesí alimentício delirante. Animais famintos comendo com as mãos e melando-se de salsa picante, coentro e cebola. Inclusive eu. Peço minha ordem de tacos e em menos de 30 segundos tenha a mão meus cinco tacos de 3 sabores distintos, cobertos com cebola e coentro acompanhados de duas cebolinhas fritas e limão. São dezenas de passoas pedindo tacos em diversas apresentações e quantidades, para comer alí ou para levar e apenas 3 homens cuidam disso tudo preparando tacos de acordo com os pedidos, defumando seus corpos na gordura ebulente que emerge dos "comales" (uma espécie de panela gigante, rasa e com o fundo invertido que emerge da gordura onde flutua a carne alrredor). ^
Para o "chilango" habitante da cidade do méxico, a rapidez é fundamental, as pessoas não aguentam esparar por nada. Não esperam pelos "peseros" não esperam no semáforo, não esperam pra comer. Peseros sempre cheios de gente em pé, gente que come tacos em pé. São a cara da Cidade do México.

Nenhum comentário:

Postar um comentário